9 de outubro de 2009

O lado de um "doutor bancário"

Encerrou-se hoje, depois de um "acordo", a greve dos bancários. Provavelmente você já xingou muito esses "folgados" que atrapalharam muito sua vida nesses últimos 13 dias. Mas já se perguntou qual o motivo da greve?

Tenho certeza que algum dia você também já xingou os banqueiros. Juros abusivos, taxas que ninguém sabe da onde saíram, cobranças na sua casa que te deixaram mal. Será que os bancários são cúmplices dessa situação?

Bom, que tal ouvir o lado dos bancários? Abaixo você vai ler o relato de um bancário, Renê Rabello Morales, formado em direito pela UNISAL de Lorena em 2008, Renê obteve a autorização da Ordem dos Advogados do Brasil para advogar no início deste ano. Deste 2006 trabalhando no banco Nossa Caixa, Rene não pensava em exercer a profissão tão cedo, pensameno que pode estar mudando um pouco.

Mas vamos ao relato do nosso doutor bancário.

O Brasil é um dos países onde os bancos têm os maiores lucros no mundo! E todo ano é essa intransigência, nunca nos oferecem um reajuste salarial razoável, por isso todo ano entramos em greve. Neste ano, com a desculpa da "cride mundial", a primeira proposta dos bancos foi 0 (zero) de reajuste! Com a primeira ameaça de greve, propuseram 4,5% (apenas a inflação setembro 2008 - agosto 2009). Na negociação de ontem colocaram como "proposta final" 6% de reajuste.

Mas é uma grande hipocrisia dos banqueiros alegarem que não podem pagar o que nós, bancários, achamos justo, porque mesmo após a crise os lucros dos bancos brasileiros já voltaram aos patamares bilionários de antes. É o setor que mais lucra no país!

Eles teriam condições de nos pagar TUDO o que pedimos (incluindo reajuste 10 %, PLR de 3 salários + 3.800 fixo, valorização dos pisos, valorização dos benefícios etc) e ainda assim continuariam com lucro bilionário. O que pedimos não é demais para os bancos. E com esses reajustes insuficientes, que com muita briga conseguimos a cada ano, nosso poder de compra não aumenta, estamos sempre com o orçamento apertado e não conseguimos planejar nada a longo prazo, porque temos sempre que estar preparados para imprevistos.

Ou isso, ou somos obrigados a recorrer a empréstimos.Eu fico contente com a disposição de muitos colegas em aderir a greve. Em Lorena, o único banco que permaneceu funcionando foi o Bradesco, porque sabemos que lá o assédio moral é enorme. Os funcionários são constantemente ameaçados de demissão pelos próprios gerentes se aderirem a greve.

Li no site do sindicato que numa cidade do interior de SP, o gerente do Bradesco mandou abrir um buraco na parede que divide o banco com o prédio vizinho, para seus funcionários entrarem por ele, pois o sindicato havia bloqueado a entrada do banco para forçar a paralisação. Veja a que ponto chegou esse gerente, colocando em risco até mesmo a segurança dos seus funcionários e clientes! O link da matéria: http://www.bancarios.com.br/news.php?news=8281

Por outro lado, ainda há muitos bancários (inclusive de bancos públicos) que não participam da nossa luta, por medo, por ignorância ou por comodismo. E um grande esforço que fazemos durante a greve é justamente esse: esclarecer a esses funcionários que a greve é um direito do trabalhador garantido na Constituição Federal, ou seja, as empresas não podem fazer nada contra quem participou da greve; e convencê-los de que precisamos do apoio de cada um, ou não teremos melhoria alguma de nossas condições.

É por isso que a cada dia de paralisação o número de agências fechadas cresce, pelo esforço dos grevistas em conseguir mais e mais aderências. A população, em grande parte, não entende nossa luta e volta-se contra nós. Somos chamados de vagabundos, folgados. Muitos acham (erroneamente) que ganhamos muito bem e que não é legítimo querer ter reajuste todo ano. A verdade é que esses que nos criticam só pensam em si mesmos, não tem um pingo de compreensão. E o pior é que os banqueiros jogam com essa pressão que sofremos da população.

Mesmo em greve, recebemos comunicados internos dos bancos cobrando "responsabilidade" com as necessidades dos clientes. Isso é uma grande ironia deles, pois o que os clientes não sabem é que a irresponsabilidade é dos bancos! Está na mão deles voltarmos ao trabalho, basta para isso negociarem uma proposta séria! Não podemos simplesmente ceder a pressão e abandonar o movimento, porque assim nunca seremos respeitados pelos nossos patrões e nosso salário ficará cada vez mais enfraquecido!

Renê Rabello Morales, 08 de outubro de 2009

A greve deve ter começando a se encerrar, sendo que todas as reivindicações foram parcialmente aceitas e com ressalvas (Renê votou contra a volta ao trabalho durante a Assembléia que definiu o fim da greve). Eu não conheço nenhum banqueiro e este blog não é informativo e sim opinativo, mas se alguém conhecer ou se alguém se dispuser a defendê-los, o espaço está aberto.

E Renê estará atento ao debate aqui, em Por Trás das Cortinas.

Hugo Nogueira Luz é jornalista

1 comentários:

Anônimo,  19:41  

nesse ano a greve dos bancarios foi uma das que obteve maior adesão dos ultimos tempos.
Sinal que o Rene está corretissimo, a população bancaria está ciente do faturamento inflacionario da classe Banqueiros contra a queda do poder aquisitivo dos bancarios, onde me incluo.
um abraço,
Joanita

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