5 de julho de 2015

Confiar no lobo vigiando o cordeiro?

Certa vez, ainda na juventude, fui a uma festa com um amigo e, ao passar em sua casa, ele me disse que levaria a irmã caçula. Tentei ser legal com o pai da garota, que estava começando a frequentar festas, e fiz uma brincadeira do tipo: “pode deixar que a gente olha ela”, recebendo, como resposta, o seguinte: “e eu vou confiar no lobo pra vigiar o cordeiro”? Mas, que outra alternativa ele tinha?



Acho que é mais ou menos assim que a Dilma está se sentindo. A cada dia uma novidade joga sua governabilidade para mais baixo, apertando um pouco mais a faca em seu pescoço, de todos os lados.

As pesquisas de opinião mostram sua popularidade caindo cada vez mais e as medidas econômicas exigidas para corrigir os erros do passado não deixam a menor possibilidade de que essa curva se inverta, pelo menos no curto prazo.

E, no campo político, as pancadas vem de todos os lados. Da oposição, que depois de 12 anos procurando um caminho a seguir recebeu uma bandeja onde prometeram que a cabeça da presidente vai repousar; dos partidos de sua aliança, que estiveram ao lado do Governo por pura conveniência, e por ela também deixarão de ali estar; do PT, que está mais perdido de cego em tiroteio com todos esses acontecimentos recentes, uns tentando se livrar outros tentando entender o que aconteceu.

E tem o PMDB, que faz parte da aliança fisiológica criada por Lula para permitir que o PT permanecesse no poder com margem de manobra. Mas o PMDB se distingue dos demais partidos da base porque, em caso de queda de Dilma, é ele quem toma conta do Planalto. Seja por uma queda isolada da presidente, assumindo seu vice, Michel Temer, seja por queda da coligação, situação na qual o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, vira presidente.

O grande problema disso para Dilma é que, se tem alguém que pode ajudá-la a tentar navegar nesse mar sem muitas tempestades é justamente o PMDB, que tem o presidente da Câmara, o Presidente do Senado, maioria nas duas casas e, por fim, tomou as rédeas da política nacional depois que os eleitores brasileiros racharam, em outubro passado, em PT e anti PT.

E é justamente isso que deve estar tirando o sono da presidente: para tentar salvar seu governo ela precisa que o PMDB lhe dê cobertura e ajude na articulação política, nesse momento para aprovar a reforma fiscal, para engavetar eventuais pedidos de impeachment e segurar os ânimos dos mais afoitos em tirá-la do poder e, num futuro bem próximo, para conduzir, da melhor forma, uma possível rejeição das Contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União, o que pode levar ao afastamento da governante. Só que esse mesmo PMDB que pode ajudá-la a ficar no Planalto é o mais interessado no caso dela perder o poder.

E olha que é muito lobo pra vigiar um “cordeirinho” tão judiado.


Acompanhemos e vejamos onde isso vai dar.   


Hugo Nogueira Luz é jornalista. nogueiraluz@gmail.com

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