16 de abril de 2008

Algumas lições de vida

Amigos, eu realmente tomei um grande susto esses dias. Eu estava na clínica de fono onde faço estágio e entrou um irmão de um conhecido dizendo que iria trazer o irmão para fazer avaliação fonoaudiológica. Achei que era um irmão caçula, e nem dei muita importância. O susto veio depois, quando eu estava fazendo outras coisas e vi o meu amigo entrando de cadeira de rodas, paraplégico. Travei de tudo, não consegui falar, nem me mexer. Passaram inúmeros pensamentos na minha cabeça. Coisas que até agora eu não entendi, e tem horas que eu ainda não acredito nisso. Fazia uns seis meses que eu não via o rapaz, e nessa oportunidade ele estava cheio de planos, procurando emprego, dizendo que tinha saído do último, contando dos “rolos”.
Ainda combinamos de jogar futebol, sair qualquer dia pra conversar, esse tipo de coisa. E dois meses depois, no dia das mães, ele estava com uns amigos de carro e sofreu um acidente no trevo da estrada de Piquete. Não sei detalhes. Nem quis saber, na verdade. Mas o que me impressiona demais nisso tudo é como alguns segundos podem e mudam uma vida para sempre.
Pensamentos como: “se eu tivesse perdido um segundo e olhado para o lado nada disso teria acontecido” e outros, são inevitáveis.Mas daí, meu amigo, o máximo que poderá ser feito é se arrepender. E sabem por quê? Porque a vida realmente não volta para trás. É por isso que hoje eu vejo que nós temos sim que pensar em cada ação que fazemos. Somos jovens e temos que aproveitar a vida, mas às vezes fazemos coisas que não precisaríamos fazer, pelo simples prazer de correr o risco, de sentir a adrenalina. Pois é, mas o preço a ser pago pode ser caro demais. E foi por isso que eu resolvi escrever isso para vocês, pessoas com quem eu me importo. Porque ver um jovem de 20 e poucos anos, cheio de vida, de perspectivas para o futuro, de planos, sentado numa cadeira de rodas, sem falar, no mínimo perdendo alguns anos de sua vida, não é fácil. Até agora têm momentos em que eu penso que não é bem assim, que se ele quiser ele pode levantar e ir jogar uma bola.Mas, meus amigos, não é assim. De certa forma ele não é mais dono absoluto de suavida, suas vontades não comandam mais totalmente sua vida. Não é uma lição de moral. É só algo que eu acho muito importante passar para frente. Termino com um pensamento de um grande escritor brasileiro, Ruben Alves, que acho muito bela:
“Quem sabe que o tempo está fugindo descobre subitamente a beleza única do momento que nunca mais será.” (Ruben Alves)

Escrevi isso, creio que há cerca de dois anos atrás. Foi realmente um fato que modificou a forma de eu enxergar a vida. Mas agora volto aqui para mostrar que a vida não é só feita de tristezas, mas também de felicidades e de lições. Outro fato aconteceu que me fez lembrar daquela manhã, em que eu estava sentado no chão e vi meu amigo Washington entrando em uma cadeira de rodas. Ele não falava, mas tinha uma expressão muito firme, e me olhou como se me conhecesse, como se quisesse me dizer algo.
Bom, primeiramente queria agradecer a minha nova amiga Gabriela, que certa vez disse ao meu irmão que me conhecia porque tinha lido um texto meu que tinha recebido do meu amigo Adriano. Era o mesmo texto. E agora, depois de anos, ela conseguiu encontrá-lo para mim. Bom. Estava eu no meu trabalho, alguns dias atrás, quando eu encontro o Washington e seu irmão, sentados. Mas agora Washington não estava mais em uma cadeira de rodas, e até se levantou para falar comigo. Tomei mais um susto, mas dessa vez bem mais feliz. Nunca mais havia falado com ele. E qual não foi minha surpresa quando ele me reconheceu, me chamou pelo nome e até falou do meu mengão, brincando.
Mais uma centena de pensamentos passaram na minha cabeça, mas consegui dizer algumas palavras para ele. Achei que ele merecia ouvir algumas coisas, embora o susto não me permitisse falar muito. “Que bom te ver em pé, cara. Você é um exemplo para muita gente”.
Ele estava de pé sim. Não tenho certeza, mas creio que devam ter se passado quase quatro anos. Fala com dificuldade. Mas está de pé, lúcido e falando. Fico me imaginando no lugar dele. Num dia era o dono de sua vontade, como disse lá em cima. No outro, por causa de um segundo, não era mais dono de nada. Eu não sei, sinceramente, se teria agüentado.
É isso me fez pensar em muitas coisas. Quantas vezes encontramos dificuldades na vida e pensamos que não vamos agüentar, temos vontade de desistir, largar mão, e, na verdade, são coisas que remediáveis, pelo menos frente a um problema como este.
Acho que vale a pena refletir sobre isso. A vida é uma só, e não é fácil para ninguém (a não ser que eu ganhei na Mega hoje). Mas acho que pessoa como o Washington nos mostram que a vida tem que ser vivida, seja ela como for, além do que mostram também que nossos problemas sempre são menores que os de alguém, e mesmo que eles sejam enormes, há sempre um meio de enfrentá-los e vencê-los.

Hugo Nogueira Luz é jornalista e sabe que a vida é uma só.
nogueiraluz@gmail.com

1 comentários:

Marianna Sobrinho 00:46  

certa vez tive uma conversa com uma pessoa que admiro muito. naquela época esse amigo estava insatisfeito com a vida, via um muro a sua frente e se sentia impotente. E eu me senti mais impotente ainda, pois tudo que eu falava ele não entendia, e nada fazia com que ele mudasse de opinião. Hoje vejo que as mudanças interiores tem que ser alcançadas sozinhas, e tenho certeza que ele aprendeu isso e viu que é e pode muito mais do que pensava ser.
Lindo texto, cheio de esperança!
parabéns

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