Por Trás das Cortinas

Lula lá!

Lula dá um passo importante em sua história hoje.

Falando sem contar o partidarismo, a emoção, as relações pessoais, etc, Lula mostra hoje que realmente é um grande homem e, acima de tudo, um grade estadista.

Não estou dizendo que é um bom presidente, ou que o PT é melhor do que qualquer outro. Isso pode ser motivo de discussão, uns acham que sim, outros que não. E todos têm suas razões, os pontos em que estão mais certos e os que estão mais errados.

Mas, acredito eu, que não seja possível alguém não concordar que trata-se de um enorme feito o que Lula tem realizado, principalmente, no que diz respeito às atividades internacionais.

Alguns anos atrás, a Colômbia decidiu nacionalizar as empresas da área de energia. A Petrobrás perderia muito com isso. Muitos defenderam até mesmo uma invasão em resposta à Colômbia. Lula foi muito calmo, parecendo que estava de acordo com a questão. Poucos talvez se lembrem de tal fato. Mas Lula estava obedecendo aos direitos da Colômbia, sua soberania nacional. Tratou-se de uma medida pouco popular.

Neste momento, o presidente operário defende totalmente a posse do presidente “legítimo” de Honduras, deposto por um golpe, Manuel Zelaya, pelo mesmo sentimento de obediência à soberania nacional, mas neste caso, da vontade popular.

Lula demonstra algo que não é comum aos políticos: coerência. A política é a arte de estar bem com todos e, para isso, muitos jogam cada hora de um lado, com seus amigos. Não que Lula não faça isso. Faz, e muito mais do que o necessário, as vezes. Mas sob este ponto de vista, pelo menos com relação à questão internacional, ele não pode ser condenado.

O presidente tem colecionado popularidade, tanto no Brasil quanto fora dele. Para quem é do Vale do Paraíba, brincávamos que o prefeito de Guará, Junior Fellipo, seria reeleito facilmente. Também, diziam, conseguiu terminar o shopping, “trouxe” um santo pra Guará e de quebra, “levou” o time à primeira divisão do paulistão. Bom, sendo estes os motivos ou não, Fillipo venceu com tranqüilidade, talvez nunca vista antes, as eleições de 2008.

Agora e o Lula, que, sem falar de política, trouxe uma Copa do Mundo (a última e única foi em 1950) e uma Olimpíada para o Brasil. Este último, fato inédito.

Além disso, tem se mostrado um homem de verdade, com emoção, chorando quando tem que chorar, torcendo quando tem que torcer, xingando quando tem que xingar. Sim, parecem coisas óbvias, mas não para um presidente. Lula, desde seu primeiro dia como presidente, tem sido notado por quebrar protocolos. Um presidente que, sem julgar méritos, mais uma vez, andou em pau de arara, não poderia ser um presidentezinho engravatado o tempo todo (sem críticas para os que o são).

Não fala inglês mesmo, não sabe. Mas tem coragem de falar isso. Por que o brasileiro precisa falar a língua dos outros? Se cada um fala sua própria língua?

Mas voltemos ao fato. Não há dúvidas de que o Brasil venceu a disputa pela sede das Olimpíadas de 2016 porque se preparou melhor, porque aprendeu com as derrotas, porque teve um bom projeto, enfim, não dá pra simplificar agora. Agora, não dá pra negar que a disputa tornou-se um episódio político, ainda mais quando Obama foi até Copenhagen, buscando fazer lobby para Chicago. Houve uma disputa paralela entre “os dois chefes de estado mais populares do mundo, atualidade”. E Lula venceu.

Lula venceu porque tem o respeito até mesmo de Obama. Venceu porque parece que lá fora, onde ele não precisa ser o “Lula do PT”, ele se torna mais humano. Venceu porque tem coragem de falar em português e ser ouvido. Venceu porque foi contra o ataque ao Iraque. Venceu porque gritou e disse que era preciso quebrar a patente de remédios anti AIDS. Venceu porque Lula retrata o Brasileiro, como ele é. Lula venceu porque dá aula de política para todos, independente de partido, independe se gostam ou não do PT. Se são de esquerda ou de direita.

Logo após seu discurso de agradecimento, um repórter do Correio Brasiliense questionou como Lula acha que seria recebido no Rio de Janeiro, depois de ter sido vaiado no PAN. O presidente respondeu dizendo que estava mais preocupado com a próxima candidatura do Rio, desta vez às Olimpíadas de Inverno, do que com isso. O presidente dá aulas de política para quem quiser aprender.

Não acerta 100% das vezes. Talvez nem 80%. Nem 50%. Nem 20%. Nem 1%. Isso depende muito de cada um. Mas o que não depende, e não dá pra discutir, é que “nunca antes, na história desse país”, se viu um presidente como Lula. E provavelmente nunca verá!

Hugo Nogueira Luz é jornalista.
nogueiraluz@gmail.com