18 de outubro de 2008

A cobertura jornalística do "maior cárcere privado de São Paulo"

Pode até ser falta de atenção minha, mas depois de praticamente seis dias do início de um caso chamado pela grande imprensa de “o maior cárcere privado da história de São Paulo” vi poucas linhas sobre as razões do crime. Sim, eu vi que a causa é o fim do namoro e a recusa da garota, de 15 anos, de voltar com o criminoso, de 22 anos.
Mas isso não basta. Ou pelo menos não deveria bastar. Sim, porque todos os dias milhares de casais de namorados decidem romper o relacionamento. Ou melhor, milhares de pessoas decidem que não querem mais se relacionar com outra pessoa e nem por isso nós vemos milhares de cárceres privados por aí. (Eloá, à esquerda, e Nayara, à direita)
A tarefa do jornalista, que é antes de tudo um comunicador, é observar de perto os fatos e transmiti-los à sociedade. Mas é preciso ir além dos fatos óbvios. Muito importante ter repórteres de plantão ali, acompanhando toda a movimentação local, transmitindo os Boletins Policiais, entrevistando promotores, advogados, comandantes da operação. Muito importante.
Vi poucos veículos comentando sobre como era o relacionamento dos dois. Até mesmo o tempo de relacionamento entre eles é importante para que se busque entender os fatos. É preciso ir além, em uma matéria publicada no site O Globo encontrei depoimentos de colegas da garota que afirmavam que o namoro, que durou pouco mais de 2 anos e meio, sempre foi conturbado devido ao excesso de ciúmes de Lindemberg.
Uma das amigas chega a afirmar que o rapaz proibia Eloá de sair sozinha com os amigos para se divertir, “mas eu sempre via ele em baladas”. Hoje em dia os relacionamentos e o sexo estão cada vez mais banalizados, e o sentimento de posso cada vez mais presente neles. Pode até ser uma viagem minha, mas a atual sociedade capitalista prega que as pessoas devem possuir, possuir e possuir. Trabalhar para comprar mais coisas. E começamos a considerar que tudo é coisa, tudo é posse. É preciso ter cuidado com isso. (Momento em que Lindemberg é preso)
Em matéria publicada no Estadão, o repórter relata um pouco da vida de Lindemberg Alves. De acordo com a matéria, o rapaz, que mora no mesmo Conjunto Habitacional que Eloá, trabalha como Auxiliar de Produção em uma empresa do ABC. Ganha cerca de R$ 600,00 por mês, fora o que consegue num bico de entregador de pizzas nos finais de semana. Gosta de funk e de andar de moto com os amigos na região. Fala ainda que ele é o caçula de quatro filhos, todos de pais diferentes.
É preciso fazer uma análise mais profunda do caso, buscar conhecer melhor a vida e as atitudes de cada um, bem como a forma como foram criados para que se busque entender as reais causas deste triste incidente, que pode ter um desfecho trágico a qualquer momento.
Outra questão que coloco é justamente sobre o desfecho. Sou totalmente contra a pena de morte. Mas creio que a melhor solução, se possível, teria sido uma tentativa de alvejar o rapaz durante uma de suas aparições na janela. Explico o porquê.
A pena de morte é uma punição. Seria mais ou menos você matar uma pessoa, que matou alguém, para mostrar que matar é errado. Discordo. Mas no caso específico, penso que as possibilidades eram poucas, até porque o rapaz não tinha exigências. Ele estava fora de si e colocava em perigo a vida de duas pessoas inocentes sem que se pudesse lhe oferecer nada em troca da liberdade das duas.
Além disso, havia uma tremenda dificuldade de acesso ao local do “cativeiro”, que era um apartamento. E quem conhece os conjuntos habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) sabe do que estou falando. O acesso é bem complicado.
Bom, agora vamos esperar para ver o que vai acontecer, torcendo sempre para que a garota Eloá e sua amiga Nayara sobrevivam, e que Lindemberg tenha a punição justa, nem mais nem menos.

Hugo Nogueira Luz é ?
nogueiraluz@gmail.com

1 comentários:

Marco Bonito 17:18  

De onde vc tirou que esse é o maior cárcere privado? Se não me engano há outros até mais famosos, como o do embaixador dos EUA e tb um que ocorreu em SJCampos na GM (final dos anos 80) onde os "metalúrgicos" aprisionaram seus "chefes" durante dias dentro da fábrica...

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