6 de novembro de 2008

Change, we need!


Barack Obama foi eleito, ontem, o presidente dos Estados Unidos. O cargo mais alto da maior potência político e econômica mundial, mesmo que em declínio. Trata-se de um feito histórico, por diversos fatores.
Poderia falar que é histórico o povo americano ser comandado por um homem de nome Barack Hussein Obama Jr., nascido no Hawai, um estado que “não fica no território americano”, filho de um queniano e de uma norte-americana. Obama significa "abençoado" em suaíli, uma das línguas oficiais do Quênia, junto com o inglês. Um homem que tem “apenas” 47 anos, estando em seu primeiro mandato como Senador, pelo estado de Illinois. Morou boa parte de sua infância em Jacarta, na Indonésia.
São diversos fatores que tornam os resultados de ontem históricos. E ainda não falamos que Obama é negro. O primeiro negro se tornar presidente dos Estados Unidos, a maior potência do planeta e onde há exatos 53 anos negros e brancos não se misturavam sequer em um ônibus. Em 1953, Rosa Parks foi presa por se recusar a ceder seu acento em um ônibus a um passageiro branco, já que os lugares reservados aos brancos estavam lotados. A partir de então, e após revoltas dos negros, não mais existiu segregação racial em meios de transporte coletivos.
Além disso, Obama foi eleito por um número recorde de eleitores (62 milhões de votos), numa eleição que levou pelo menos 65% dos 200 milhões de americanos às urnas. Esse número só pode ser comparado, na história recente, aos 64,9% de eleitores que levaram J. F. Kennedy aos poder, em 1960.
Outro fator, não menos importante, que garante o título de histórico ao pleito de ontem, é a atual crise econômica mundial que assusta a todo o mundo, gerada e desenvolvida em solo norte-americano. Obama tem o desafio de reacelerar, ou pelo menos de brecar a desaceleração, de uma economia que possui hoje um déficit de US$ 455 bilhões, em 2008. Quando George W. Bush assumiu o comando do país, em 2000, o superávit era de US$ 236 bilhões.
O mundo todo estava de olho nestas eleições, e em Obama. "A América está elegendo um novo presidente, mas para os alemães, para os europeus, está sendo eleito o próximo líder mundial", disse Alexander Rahr, diretor do Conselho Alemão para Relações Internacionais. "Vemos novos desafios surgindo, não me refiro apenas ao extremismo islâmico, mas à Rússia, China, Índia, Paquistão, Coréia do Norte. Há fogo em todo lugar. E nós, europeus, não podemos resolver esses problemas sem a América. Um mundo sem uma liderança dos EUA é, para a maioria dos europeus, o caos", acredita.
Fidel Castro, que já vivenciou 13 eleições americanas, desde que está no poder, afirmou que "a opinião mundial está atenta ao que ocorre nas eleições dos Estados Unidos." E opinou: "Obama é sem dúvida mais inteligente, culto e equânime que seu adversário republicano".
Nizar al-Kortas, colunista do jornal Al-Anbaa, do Kuwait, vê a possível vitória de Obama como "um passo histórico para mudar a imagem de arrogância do governo dos EUA para uma feição mais aceitável pelo mundo". A cidade costeira de Obama, no Japão, está completamente decorada com imagens do candidato, e as preparações para o dia da vitória seguem a todo vapor.
O mundo todo está de olho em Obama, como não poderia deixar de ser. Mas por quê? Diversos motivos, sem dúvida. Muitos, inclusive, além de meu entendimento. Alguns já foram ditos aqui. E existem mais.
O jornalista Renato Pompeu afirma que os Estados Unidos foram divididos em dois durante esta campanha. Os mais jovens, as mulheres e as minorias teriam apoiado Obama devido à sua “vaga promessa de mudança”. Já o apoio à MacCain viria dos trabalhadores mais velhos e representaria a promessa de um regresso à boa situação anterior, que o eleitorado de Obama não teria conhecido. Uns querendo um futuro promissor, que não tem no presente nem nunca tiveram. Outros, desejando um passado próspero, que também não existe mais. Um país em crise, que pode sacudir todo o mundo.
MacCain e Sara Pelin
John MacCain é um ex-combatente americano na Guerra do Vietnã (1960 – 1974). Senador pelo estado de Arizona, tem 72 anos, filho e neto de militares. Foi pré-candidato à presidência em 2000, pelo partido Republicano. Naquela oportunidade, perdeu as primárias para George Bush, depois de ser acusado de não estar nas condições perfeitas de estabilidade mental, por ter sido prisioneiro de guerra durante cinco anos. Teve a difícil tarefa de ser o candidato de um presidente sem prestígio e popularidade, depois de fazer uma guerra em sentido e levar a economia do país ao fiasco.
MacCain passou boa parte da campanha tentando se desvincular de Bush, afirmando, inclusive, que votou contra o presidente no Senado em diversas oportunidades. Mas era declaradamente favorável à continuação da Guerra no Iraque. E MacCain errou durante a campanha. Errou ao pensar que a escolha de Sara Palin para o cargo de vice-presidente seria uma boa. A ex-repórter e Governadora do Alasca, Sara Heath Palin foi vereadora e prefeita da pequena Wasilla, de apenas 7 mil habitantes, antes de se eleger governadora do Estado, em 2006.
Desastres como o anúncio de que a filha adolescente estava grávida (sim, um desastre se você pensar como um republicano) e o guarda-rouba caríssimo pago pela campanha, além de acusações de perseguição política e de corrupção, levaram à candidata que se diz “um pittbull e que acredita que, em nome de Deus, seu país pode tudo, até mesmo nos invadir”, de acordo com a revista Caros Amigos, mais atrapalhasse do que ajudasse a campanha de John MacCain. Como se a crise já não fosse o bastante.
Palin brincava que podia ver a Rússia de seu estado (o Alasca foi comprado pelos Estados Unidos do Império Russo em 1867), e que por isso teria capacidade de gerir crises externas. Uma leitora do New York Times respondeu da seguinte maneira para a ex-candidata: Há uma clara diferença entre ter uma visão da Rússia e uma vista para a Rússia. Qualquer ser pensante sabe a diferença”. Um comentário, obviamente, recheado de emoção e calor gerado pela disputa eleitoral, mas Palin é, de fato, despreparada para o cargo.

O FIM DA ERA BUSH
George Walker Bush foi eleito presidente dos Estados Unidos em 2000. Filho do ex-presidente Georg Bush, o presidente da Guerra do Golfo, Walker teve uma vida de “filho de presente”, regada a negócios obscuros e álcool.
Eleito “numa das mais suspeitas eleições da história”, nas palavras do comentarista político da Bandeirantes, Newton Carlos, em palestra na cidade de Lorena, em 2002. Bush foi eleito sem ter a maioria dos votos dos cidadãos americanos, graças ao processo eleitoral daquele país.
Foi um dos presidentes mais controversos da história, sem dúvida, passando de uma popularidade baixa ao se eleger (tendo-se em vista que teve menos votos que Al Gore – cerca de 53%) a números mais elevados depois dos ataques de 11 de setembro e do início da cassada aos “responsáveis”, chegando aos 90%, um feito recorde.
Odiado por boa parte do mundo por sua política externa arrogando e ofensiva, Bush promoveu a invasão do Afeganistão e a Guerra do Iraque. No entanto, não encontrou Osama (não é Obama, é Osama) Bin Laden e nem achou Armas Químicas no Iraque. Mas terminou o serviço iniciado por seu pai e acabou capturando Saddan Hussein (seria o mesmo sobrenome de Obama?).
Mesmo sendo “odiado” por boa parte do mundo, Bush ainda manteve seu nível de popularidade razoavelmente constante nos EUA, tendo sido reeleito em 2004, numa eleição mais tranqüila. Mas é aí que surgem novos fatores. A passagem do furacão Katrina, por exemplo, foi um marco para Bush. O presidente sequer cancelou suas férias diante de um dos maiores desastres naturais daquele país. Foi alvo também de fortes críticas por supostamente ter demorado para agir diante do problema. No total, 1.836 pessoas morreram e o furacão causou prejuízos de mais de US$ 80 bilhões.
Eis que surge a Crise Econômica. A maior desde 1929, segundo alguns especialistas. E o povo, justa ou injustamente, precisava de um culpado. Foi aí que a coisa ficou preta para George W. Bush, o filho. A culpa caiu toda sobre suas costas. E sua popularidade? Bom, Bush votou três dias de iniciado o processo eleitoral, via correio! Não deu as caras na rua. Não opinou sobre seu candidato. Sequer apareceu em público no dia 4 de novembro. Uma situação vexamosa para o presidente dos Estados Unidos.
A verdade é que Bush vai embora. Deve deixar a Casa Branca dentro de 76 dias (já que Obama assume em 20 de janeiro) e ninguém parece estar disposto nem a dar adeus. Durante esses oito anos pensei como podia existir alguém como Bush. Não entrava na minha cabeça alguém fazer tudo o que ele fez e continuar lá. Participei de passeatas onde todos levavam sua foto com os dizeres: “Procura-se. Terrorista internacional”. É o que ele é, na minha opinião. Mandou matar milhares. Ordenou a tortura de centenas de milhares. Não acho que ele tenha pagado tudo, mas parece que pelo menos um pouco da justiça foi feita. Até nunca, George Walker Bush.
Quanto a Obama, “We need the changes” Resta saber quais serão.
Hugo Nogueira Luz é jornalista.
nogueiraluz@gmail.com

2 comentários:

Anônimo,  12:50  

Atendendo a pedidos:

Caro petista,

Sarah Palin tem mais experiência administrativa que Obama. Despreparado é o messias negro, que teve tempo para escrever duas autobiografias e não teve para apresentar nenhum projeto de lei relevante. Quem é mais experiente, uma prefeita ou um lider comunitário?

A questão da proximidade do Alasca com a Rússia foi apenas um exemplo dado por ela para ressaltar a importância de boas relações com os russos. E Palin foi o maior acerto de Mac.

O que acabou com as chances dele foi o recrudescimento da crise. Até a queda das bolsas e a intervenção nos bancos de investimento, McCain tinha 5 pontos de vantagem sobre Obama e ganhava no colégio eleitoral.

Obama foi beneficiado pelo momento, nada mais.

Do seu ombudsman favorito.

Anônimo,  16:42  

Caro amigo Luiz Eduardo, agradeço o "serviço de ombudsman" que você faz aqui, principalmente por ter sua audiência conosco.
Bom, na minha opinião, uma prefeito pode ser mais experiente do que um líder comunitário, assim como um líder pode ter mais experiência que uma prefeita. Isso é subjetivo.
Mas não é possível subestimar o presidente Eleito Barack Obama, por tudo o que ele demonstrou, pessoalmente e politicamente.
Mas viva a democracia, e nós sabemos bem o que isso significa. Como eu disse, vamos aguardar para ver como as coisas vão ser. Ouvi dizer que o discurso do candidato Obama com relação à desocupação do Iraque já foi alterado depois de vencidas as eleições.
Vamos esperar.
Um abraço

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