Chega de financiar campanhas
A cassação de diversos vereadores em São Paulo atingiu enorme gama de partidos. Desde o DEM do prefeito Gilberto Kassab até o PT do presidente Lula, passando por PSDB, entre outros. Começo, agora, a entender os motivos que levaram um juiz eleitoral a cassar tais mandatos, e confesso que fiquei estarrecido. De uma maneira positiva, é claro.
Os cassados estão alegando que fizeram suas prestações de contas de acordo com a legislação em vigor e que as doações também estavam dentro do que a lei prevê. Afirmam que os juiz extrapola o que a lei diz e que serão inocentados em estâncias superiores. Uma vereadora chegou a dizer que isso representa um dano irreparável a sua imagem política e pessoal. Talvez o juiz não tenha, realmente, autoridade legal para fazer o que fez, porque ao que parece, os políticos agiram de acordo com os padrões legais. Mas o juiz foi mais longe e pegou na questão dos padrões morais e éticos. Talvez sejam atitudes como esta que faltam para que a nossa política seja mais limpa.
De acordo com a interpretação do magistrado, aqueles políticos que apresentaram doações de empresas que receberam benefícios diretos da administração municipal nos próximos anos e que tais doações representaram mais de 20% do total recebido por aquele candidato, tiveram seus pedidos de cassação em primeira instância. Nada mais justo, em minha opinião.
Se pensarmos que, em termos do que vem ocorrendo sistematicamente no Brasil, hoje a doação a políticos é um negócio que tem seu risco, mas pode ser muito lucrativo, entenderemos a lógica de tais cassações.
Uma empresa faz uma doação a um candidato e, meses depois, recebe de brinde a vitória em licitações fraudulentas, o que não é nada difícil de se realizar hoje em dia. Políticos gastam milhões em suas campanhas, que se tornam verdadeiros shows de distribuição de brindes e de outras “cocitas más” com o dinheiro recebido de doações. Depois, as empresas que fizeram tais doações recebem verdadeiras fortunas provenientes dos cofres públicos. Ou seja, no final das contas, quem paga as campanhas milionárias somos nós. O povo é quem sempre paga o pato.
Mas o que me chamou a atenção foi a naturalidade e a falta de cara de pau com que certos políticos, sem perseguições, porque na maioria dos casos são ilustres desconhecidos para nós, vão até a imprensa afirmar estarem sendo vítimas de perseguições. Está na moda agora. Se alguém acusar um político de alguma coisa, por mais na cara que estejam as coisas, trata-se de uma perseguição pessoal.
Nada pessoal contra ninguém, até porque ali, no hall dos cassados, há cobras de todas as casas, mas se tivéssemos mais juízes como este, talvez a luz no fim do túnel estivesse mais próxima.
Hugo Nogueira Luz é jornalista.
nogueiraluz@gmail.com
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