O voto da (falta de) opção

Dilma Rousseff foi aclamada recentemente pré-candidata do Partido dos Trabalhadores, juntamente com o PMDB, à presidência da República. Os candidatos só passam a poder ser chamados dessa forma quando fizerem seu registro junto à Justiça Eleitoral, em julho, que marca o início das campanhas. Até lá, todos são pré-candidatos.

Dilma é minha candidata. Por total falta de opção, mas é. Quem temos no cenário atual político que possa se sobrepor a ela?

José Serra, com todos os escândalos que já o assombraram e ainda o assombram, sem contar que seria mais uma comprovação que de a política de trampolim é correta. Quantas vezes esse senhor já deixou seu cargo para se candidatar em outras eleições? Vamos fazer eleições de dois em dois anos então.

José Serra fazendo uma pose que não deveria ter feito

Marina Silva, com o mesmo radicalismo de Heloísa Helena em 2006 ou de Lula desde 1989 até 1997, quando aprendeu que fazer política não é fazer tudo o que quer, e sim colocar prioridades e buscar o melhor, dentro do possível. O que Marina faria no governo? Acredito eu que muito, muito pouco. Para governar uma cidade, um Estado ou um país é preciso muito mais do que ganhar uma eleição. É preciso ter governabilidade. É preciso ter um plano concreto. É preciso ter trânsito e ter influência nas Casas Legislativas e nos Estados. Marina poderia ganhar a eleição, mas o fraco PV não a credenciaria a governar um país.

Ciro Gomes seria um bom nome. Tem experiência. Tem competência. Não esteve, aparentemente, envolvido em escândalos, nem mesmo naqueles em que o PT de Lula, de quem Ciro era Ministro, foi atingido. Mas Lula e o PT não querem Ciro. Um erro, mas... O mais certo é que Ciro abra mão de sua candidatura nas vésperas do período eleitoral. Senão, servirá apenas para tirar votos de Cerra. O que for mais útil para a eleição de Dilma. Ou você acha coincidência Dilma e Ciro estarem fazendo campanha, literalmente, juntos.

Dilma faz campanha no maior bloco de carnaval do mundo, o Galo da Madrugada.

Ao fundo, no mesmo palanque, Ciro Gomes acena para amultidão.

Abrindo um parêtenses, em minha opinião, o melhor presidente do Brasil para 2010 não estará concorrendo na eleições, mas terá papel fundamental. Aécio Neves seria o melhor nome para assumir o planalto no próximo ano. Mas o PSDB, com sua política bairrista, erra mais uma vez e tira Aécio da disputa. Uma fala de um taxista de BH no dia em que o governador mineiro afirmou não ter intenção de ser candidato traduz o que eu falo: “O PSBD não quer que Minas tenha um presidente”. E Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país.

Mas vamos a Dilma. Essa semana foi possível conhecer um pouco melhor a vida da ex-ministra chefe da Casa Civil e pré-candidata à presidência, em diversos sites e jornais. Para mim, Dilma é uma mulher de fibra, corajosa, inteligente. Mas não tem carisma. Uma guerrilheira, mas que, a meu ver, tem pouca capacidade de negociação. Está acostumada a mandar, decidir, receber e cumprir tarefas. Um belo cão de guarda, necessário a qualquer governo. Mas nos bastidores, como ela sempre esteve no governo Lula.

O presidente que ficou conhecido por sua imensa capacidade de negociação escolheu para sua sucessora uma mulher que, aparentemente, não tem muita experiência no ramo. Na política há dois tipos de pessoas: os técnicos e os políticos. Ambos são importantes para o bom desenrolar das atividades e em um time. Dilma, para mim, é do grupo dos técnicos. Não tem apelo popular.

Dizem que a idéia do PT era a de usar a imagem da mulher para a campanha de Dilma. Me desculpem, mas a guerrilheira me dá mais medo do que muito homem quando fala. O marketing t tem tentado dar a ela um aspecto mais feminino, mas parece ser uma tarefa bem mais difícil do que convencer aos pobres brasileiro que Lula não comia criancinha. E olha que demorou mais de dez anos para isso ehm.

Mas Dilma representa a continuidade de um política que mudou o Brasil. A política do governo do PT, que não é perfeita, mas provocou transformações gritantes e indiscutíveis em muitos aspectos da política econômica e social de nosso país.

Enfim, Dilma se coloca como a principal candidata ao planalto (sim, é isso o que penso, apesar dos dez pontos que ainda a afastam de Serra). E é, sim, minha candidata. Não por opção, mas por falta dela.

Hugo Nogueira Luz é jornalista.

nogueiraluz@gmail.com