Uma análise da Camara de Lorena

Estamos entrando no mês de abril de 2010. Os vereadores que tomaram posse em janeiro de 2009 já tem mais de um ano de mandato. Acho que está na hora de fazermos uma análise de como foi esse um ano de mandato.

O resultado das eleições passadas foi este:

1) Galão Aquino (PMDB)- 2647 votos

2) Elcio Vieira Junior (PV) - 1807 votos

3) Dr. Martinho (PSB) - 1716 votos

4) Roberto Bastos de Oliveira Junior (PTB) - 1228 votos

5) Rogerinho (PDT) - 1189 votos

6) Zé Carlos da Padaria (PDT) - 1177 votos

7) Marcelinho Alvarenga (PSDB) - 1043 votos

8) Lorane Bustamante (PTB) - 997 votos

9) Chiquinho Carteiro (PDT) - 873 votos

10) Mafú (PV) - 731 votos

Galão Aquino é um vereador de segundo mandato. Em seu primeiro quadriênio, entretanto, planou como se não estivesse lá. Nos primeiros dois anos foi um vereador apagado, cursando uma faculdade em outra cidade e chegando na Câmara quase na hora das votações. Com uma família de forte tradição na cidade, quase causa um racha familiar, se não causou, por suas posições contrárias a o que os bons costumes e as tradições de sua família indicavam. No segundo biênio, graças a uma dessas situações que só a política pode explicar, se elegeu presidente da Câmara. Com isso, teve uma ascensão maior no meio político e popular. Mas, inexperiente e mal assessorado, pode ter enterrado sua carreira política devido a diversos problemas durante sua gestão, apontados pelo Tribunal de Contas. Além disso, sua inexperiência política o levou a ter uma eleição complicada, em que precisou de uma votação expressiva para se reeleger. Conseguiu isso. Mas a um preço que pode ter sido alto demais. Durante esse segundo mandato, Galão tem se mostrado apagado, buscando uma aproximação com o prefeito e, ao mesmo tempo, uma liderança dentro da Câmara Municipal. Está, no último mês, ocupando um papel de destaque um pouco maior devido à briga com o presidente da Câmara, em defesa do prefeito. Outra questão que pode custar caro ao vereador.

Elcinho, o que era parceria virou drama

Élcio Vieira Jr. teve um papel de destaque no mandato passado. Não na Câmara Municipal, mas foi apontado por muitos como o grande manda-chuva da Administração do dr. Paulo Neme. Ex-secretário de Negócios Jurídicos e filho do ex-vereador Élcio Vieira, Elcinho teve uma campanha própria, diferenciada dos demais vereadores, regada a muito dinheiro. O resultado foi o esperado para uma pessoa que até então não tinha inserção popular, mas que a conseguiu durante a campanha. Foi eleito presidente da Câmara e cometeu um erro, em minha opinião. Conseguiu o apoio da maioria dos vereadores, mas não num acordo bilateral, mas sim em acordos em que basicamente um só ganhava. Quando comecei a escrever esse artigo, há um mês atrás, dizia que as coisas poderiam mudar se houvesse um rompimento com o prefeito. Pois parece que estava prevendo o que iria ocorrer. Elcinho rompeu com o prefeito, em sua busca de interesses maiores, o que ocasionou a demissão de seu pai da Secretaria de Educação. Isso está gerando a maior crise política que eu já vi na cidade de Lorena. Acusações, brigas, ameaças, enfim, tudo o que já foi falado aqui em Por Trás das Cortinas. Agora resta saber se os acordos feitos no início do mandato servirão para ajudar ou atrapalhar Elcinho.

Dr. Martinho é um ex-vereador experiente. Tem o sonho de ser prefeito. E tem competência para isso. Mas sua praia não é o legislativo. Ainda mais quando era o único vereador dito de oposição. Por isso mesmo tem tido uma legislatura apagada. Com denúncias, mas sem muito fundamento. Realizando investigações, porém sem muito aprofundamento em seus trabalhos. Ainda é, para muitos, a única esperança. Sua intenção é se manter forte para que, em 2012, possa ter uma boa base eleitoral para buscar sua sonhada vaga no Executivo municipal.

Roberto Bastos de Oliveira Júnior

Roberto Bastos de Oliveira Júnior, o Totô, também é um vereador de segundo mandato. Eleito no time de dr. Paulo Neme, sob a bandeira do vereador jovem e com as bênçãos de um padre prá la de suspeito em suas atitudes, pedindo voto em missa, Totô gritou muito, mas fez pouco em seu primeiro mandato. Usando a conhecida política do varejinho (faz uma mudança para um aqui, consegue um ônibus para levar uma banda ali), Toto tentou estar presente em todos os lugares, festas e eventos. Até onde não foi convidado. Agora, no segundo mandato, percebeu que ia perder poder e cometeu um grande erro ao comprar uma briga com o todo poderoso Élcio Jr. . Ficou sem assessor, sem telefone, sem xérox (o que foi um bem para os cofres públicos) e agora está ao mesmo tempo junto do prefeito, para não perder o que resta de seu varejinho, e contra o presidente da Câmara. Ah, está também buscando um espaço junto à antiga oposição. Buscando sempre um pouco mais de Fama.

Rogerinho, eleito com a bandeira do 100%, era um ilustre desconhecido. Um típico político meteórico brasileiro, oferecia sorvete em todo e qualquer tipo de festa meses antes da eleição. Mas esse não era o único fundo que financiou sua campanha. Há outros, mais sigilosos e perigosos, que tornam o vereador inexpressivo perigoso. Na Câmara, não tem feito muita diferença. A princípio do lado do presidente, começou a despontar, como uma liderança de sua oposição há poucos meses. Lançou sua campanha à sucessão de Elcinho, com apoio de alguns vereadores. Projeto de Lei e trabalho, muito pouco, quase nada.

Zé Carlos foi vereador pela segunda vez. Aliado do ex-prefeito Aloísio Vieira, ficou de fora do legislativo por quatro anos. Voltou com forte apoio da população rural de Lorena. Mas a Câmara ficou polarizada demais nesse primeiro ano de mandato para dar chance aos coadjuvantes. Não há, também, uma bandeira clara ou projetos consistentes a serem citados.

Marcelinho Alvarenga é um jovem idealista. Se elegeu na terceira eleição que participou. Ali, na última vaga, quase não entrando. Começou da forma como todos começam. Trocou de lado na política para conseguir emprego aos dois irmãos. Muito comum, mas perigoso. Durante o primeiro mandato teve projetos importantes e conseguiu mobilizar ajuda para a cidade de Lorena, obtendo verbas de deputados aliados. Mas preferiu o papel de coadjuvante, fazendo cara de paisagem em momentos determinantes. Estrategista, conseguiu a reeleição, desacreditada por muitos. Em seu segundo mandato, aparece como vereador experiente. Buscou desvincular vida pessoal de política, mas num cenário onde estar nos holofotes pode significar ser um eterno alvo, tem procurado atuar nos bastidores, sem firmar compromisso com ninguém e preocupado em manter seu mandato e em buscar verbas para a cidade.

Lorane e o PTB de Paulo Neme: relações estremecidas

Lorane Bustamante está em seu primeiro mandato. Mas não é desconhecida na política. Esposa do ex-vereador, ex-secretário de saúde e vice-prefeito, Marcelo Bustamante, Lorane chefiou a pasta da saúde no mandato passado, quando Bustamante despontava como um dos alicerces do governo de Paulo Neme. Era presença constante na Câmara, com sua forma habitual de aparecer e buscar ganhar discussões pelo tom elevado de voz, Lorane não fez muitas amizades no meio político. O último mês marcou uma mudança radical na vida política da vereadora. Eleita buscando fortalecer a futura candidatura do marido a prefeito da cidade, mudou de foco ao perceber que a saúde política de Marcelo não permitiria uma eleição em 2012. Agora, depois da crise na Saúde de Lorena no final do ano, um racha foi inevitável entre prefeito e vice, já a Paulo Neme só restou culpar Bustamante por todos os problemas da Saúde, como lhe é costumeiro. Lorane fica sem time, sem grupo, e sem a ação, que já não tinha. Mas é mais um elemento que passa a figurar no campo dos que buscarão se contrapor à política baixa e em declive de Paulo Neme à frente da prefeitura de Lorena.

Chiquinho Carteiro é mais um que, se questionado sobre o que faz um vereador não sabe nem dizer nem enrolar, como faria um bom político. Sem nada consistente apresentado nesse um ano de mandato, as únicas vezes em que teve seu nome cogitado na Câmara foi nos inúmeros sorteios de Comissões Especiais de Inquérito em que foi sorteado para participar. Inexplicavelmente, pediu para não participar de quase todas elas. É mais um que deveria representar a população, mas está fazendo muito pouco para honrar os mais de R$ 5 mil que recebe todos mês dos cofres públicos.

Mafú, como a maioria dos vereadores, era desacreditado antes do final das eleições. Morador de um dos bairros mais populosos de Lorena, o vereador é o que pode se chamar de uns dos mais instruídos politicamente dentre os novatos. Preocupado, sinceramente, em buscar o bem da população, sob meu ponto de vista, buscou se instruir para desempenhar um papel interessante na Câmara. Foi, dos que entraram, o que mais se mostrou e se concedeu acesso à população. Seu site mostra o que tem feito. Embora tenha entrado em um grupo que não comungava de seus ideais, está buscando, ao que me parece, não aparecer muito para não ser comprometido. Teve alguns projetos que buscavam a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Projetos simples, nem de longe comparados ao que já vimos na Câmara e ao que é necessário à cidade, mas tem mostrado preocupação com a população de Lorena.

A Câmara de Lorena, tendo á frente o ônibus comprado

na administração de Élcio Vieira Júnior

A situação na Câmara é grave. A política de Lorena está num estágio caótico, onde os interesses pessoais se sobressaem a qualquer interesse que a população possa ter. Na verdade, não há nada ali que possa ser produtivo aos moradores de Lorena, aos comuns, que pagam seus impostos e trabalham honestamente, há muito tempo. Enquanto isso, Lorena segue estagnada, enquanto vê as cidades vizinhas e o resto do país caminhar. Quando saí da cidade, há um ano e três meses, achei que pior não dava para ficar. Me enganei.

Hugo Nogueira Luz é jornalista.

nogueiraluz@gmail.com