16 de agosto de 2014

Como Eduardo Campos pode decidir a eleição sem ter nenhum voto

Eduardo Campos era um dos nomes mais fortes para as eleições... de 2018. Quem convive com a política sabe muito bem que a estratégia de Campos, iniciada com o apoio maciço, e regado a muito dinheiro, a candidatos a prefeituras em todo o Brasil, dois anos atrás, tinha como degrau as eleições de 2014, quando o ex-governador do longínquo Pernambuco e ex-ministro da apagada pasta de Ciência e Tecnologia, se lançaria na vitrine política nacional.


Esperava-se que suas pernas aguentassem bem essa etapa, fazendo com que Campos, herdeiro de considerável histórico e linhagem política, fosse um dos favoritos para presidir o Brasil depois de 2018. Muito provavelmente, nesse cenário, conduzido por seu amigo e tutor político, Luiz Inácio Lula da Silva. Não quero dizer que ele entrou para perder, mas vencer o pleito de 2014 seria um feliz acidente.

Agora, Campos pode decidir as eleições mesmo sem ter um único voto. Sua morte repentina conseguiu o que sua maior tacada política, o lançamento de Marina Silva como sua vice, ainda parece não ter trazer para sua candidatura: a sensação da real possibilidade de mudança.

É muito mais fácil confiar em uma possibilidade que poderia ter acontecido do que em algo concreto. Campos não pode decepcionar mais ninguém. Ele não tem como cometer mais erros, já que está morto. Então está sendo alçado à imagem de perfeição. Não estou dizendo que era um político ruim. Mas agora, como diz aquela velha expressão popular: morreu, virou santo...

Nesse caso, ele acabou suprindo as carências e os desejos da população, mesmo que esta não o conhecesse até sua morte, mesmo que ele, se não tivesse morrido, dificilmente conseguiria chegar à casa dos 20% de votos válidos.

Depois de morto, a imagem do “candidato” Eduardo Campos conseguiu atingir pessoas e locais que ele demoraria muito (tempo e dinheiro) para atingir. Aliado a isso, a tragédia que o levou acendeu o lado sofredor do brasileiro, que nos faz sentir pena e torcer sempre por aquele que sofre ou está sendo prejudicado.

Isso tudo pode jogar milhões de votos na conta daquele que o suceder nas eleições de outubro. Isso, é claro, se esse sucessor souber como conduzir isso.

Marina Silva tem um eleitorado próprio muito pequeno. Dos 20 milhões de votos que obteve no último pleito, provavelmente 90% era o voto de quem não queria nem PT nem PSDB. Seus números não se alterariam muito esse ano, caso fosse candidata. Isso antes de Campos morrer e de sua viúva declarar publicamente que Marina deve continuar a caminhada que ele iniciou.

Agora, o jogo pode mudar. Já está mudando. A esperança que se criou e foi enterrada simultaneamente junto com os destroços do avião de Eduardo Campos podem, senão conduzir Marina Silva ao Planalto, dar muita dor de cabeça aos demais presidenciáveis.


Aécio, Dilma e Lula sabem disse desde o momento em que receberam a notícia do desastre. Resta saber se terão como impedir o Tsunami deflagrado em Santos na última quinta feira.      


Hugo Nogueira Luz é jornalista.

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