5 de agosto de 2015

Cortando a manteiga

Fazer 30 anos é uma guinada importante na vida. Além de escancarar a mudança entre a fase jovem e a fase adulta (ah meus vinte anos) outras preocupações surgem, como por exemplo a saúde. Eu, logo que entrei na terceira década, resolvi fazer uma bateria de exames que apontaram quase tudo certo. A exceção foi o colesterol, um pouco alterado.

É difícil para o ser humano aceitar suas fraquezas, afinal, gostamos de acreditar que somos invencíveis. Assim, o tal do colesterol encheu minha paciência. Fiquei, por dias, pensando, puxei a lista de alimentos que podiam levar a isso e disse à minha esposa: “faço exercícios, minha alimentação é boa, desta lista das coisas que eleva o colesterol não como praticamente nada, só a manteiga...”

Ah, a manteiga, não abria mão de caprichar na manteiga, fosse no pão, fosse na bolacha, fosse na hora de fazer, raramente, algo frito.  E na hora pensei: “a manteiga não vou tirar, não dá. É a única coisa que como que faz mal, me dou o direito de me esbaldar na manteiga. Tanta gente come e não faz mal”. Mas eu tinha uma tal de herança genética. E estava tão acostumado com meu café da manhã tradicional, mudar estava fora de questão.

Mas os 30 anos trazem, além do cabelo branco, no meu caso, um pouco mais de experiência e ponderação. Assim, passados alguns poucos dias, resolvi deixar que comer manteiga. E, para isso dar certo, a mudança tinha que ser drástica. Fui ao supermercado, comprei algumas coisas pelas quais eu poderia substituir a “tão querida companheira de todas as manhãs” e fui em frente.

Primeiro dia, abri a geladeira, olhei para ela e disse mentalmente, “é aí que você tem que ficar”. Segundo dia, distraído, cheguei a pegar o pacote errado e colocar na mesa, aí lembrei e resolvi deixa-la ali para minha esposa, afinal, era eu quem não podia comer. No terceiro dia já foi mais natural, tirei a manteiga, como antes, mas, sem grandes problemas, comi meu pão com outras coisas. E assim as coisas foram caminhando e a insubstituível manteiga deixou de fazer parte da minha vida, de uma forma muito mais fácil que achei que seria.

Ainda vou fazer novos exames, mas tudo leva a crer que a situação vai estar melhor. E isso me mostrou que com a vida a lógica é mais ou menos a mesma: queiramos ou não há algumas coisas, alguns hábitos, algumas pessoas, que simplesmente nos fazem mal. Pode ser aquilo que mais gostamos, aquilo que acreditamos não conseguir viver sem. Mas, ficar lamentando, achando-se uma vítima ou se sentir perseguido só atrasa mais a decisão que é inevitável.

Se há algo que te faz mal, corte, tire de sua vida, rápida e definitivamente. Tomar essa atitude drástica pode doer bem menos do que você pensa. E, afinal, o que não tem remédio, remediado está...



Hugo Nogueira Luz é jornalista. nogueiraluz@gmail.com

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