Enxergar com o cérebro
Isso me fez lembrar algo que há
muito estava perdido em minha memória e que também envolve olhos.
Meu pai sempre fez questão de ir
e voltar do trabalho a pé. Durante um bom tempo usava a bicicleta para ir ao
consultório. Mas a maioria das vezes era a pé mesmo. Aí, me lembrei agora, de muitas
vezes em que estava na rua, brincando, e o via chegando, lá na esquina e corria
para encontrá-lo.
Pois bem. Não eram raras as vezes
que ele estava de olhos fechados, andando com a mão “raspando” nos muros e
grades das casas pelas quais passava. Para alguém que não o conhecesse poderia
parecer estranho, mas eu sabia muito bem a razão daquilo.
Quantas vezes escutei isso e
cresci com isso em meu estilo de vida.
Mas agora vejo que o mundo de
hoje, esse mundo 2.0, 3.0, ou sei lá quantos pontos zeros, nos dá tudo de mão
beijada. “Tá difícil de achar? Usa a
busca!”
A começar pelo ‘está’ que já
virou ‘tá’, assim como o ‘você’ virou ‘vc’ e mts outras tbm, até nossa preguiça
mental, que não é mais capaz de perder 30 segundos, um minuto para procurar
alguma coisa. Mas já perde a paciência e, em dois ou três segundos já apela
para um ‘atalho’.
Nicholas Carr, em seu livro “O que a Internet está fazendo com nossos cérebros – A Geração Superficial”, conta que “costumava mergulhar em
um livro ou em um artigo imenso (...). Agora, isso raramente acontece. Minha
concentração começa a se extraviar depois de uma ou duas páginas. Fico
inquieto, perco o fio, começo a procurar alguma coisa mais para fazer. Sinto
como se estivesse sempre arrastando o meu cérebro volúvel de volta ao texto. A
leitura profunda que costumava acontecer naturalmente tornou-se uma batalha” (Pág. 17).
A internet trouxe, e traz, a cada
dia, inúmeros e grandes benefícios e vantagens.
Mas, de agora em diante vou
lembrar um pouquinho de meu pai caminhando de olhos fechados e vou tratar de
exercitar mais meu cérebro.
Hugo Nogueira Luz
Hugo Nogueira Luz
Hugo, também vivi essa experiência com o Hugo, pai.. Lembro-me delas, apesar de esqueçer de exercitar. Incrível.
Parabéns pelo texto, pela sensibilidade na arte de escrever.
Você ainda é jovem para ter essa percepção de quanto a atitude ON, pode nos limitar apesar de abrir as possibilidades de conhecimento cientifico. Que bom que a tem.
Estou em busca do OFF, de tatear com as mãos o conhecimento externo.
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